As Gajas e os Gajos no Algarve – Relatório da Bluerussian
Por sugestão de um concorridíssimo post de um blog de seu ilustre nome Bicicleta de Recados, resolvi pôr pés ao caminho, mãos, olhos e ouvidos à obra e realizar in loco uma observação sociológica, tendente à obtenção de conclusões isentas sobre atitude das pessoas no Algarve (cingi-me a Albufeira, hélas...), nativas ou não.
A altura da Páscoa não é o melhor sample. O ambiente é maioritariamente familiar, aproximadamente 70% das pessoas que se vêem nas ruas e nas praias andam em família, quer sejam portugueses, quer estrangeiros. Vêm-se alguns grupos de malta mais desgarrada, a gozar as feriazinhas em grupos pequenos. No verão, a diversidade de grupos é muita, e há menos preponderância de grupos familiares assim tão coesos.
Seguem-se as conclusões:
1- O Algarve é o único sítio em Portugal onde se pode andar em bikini na rua (calções de banho para os homens...), sem complexos de qualquer espécie - as pessoas despem-se mais, e mais descontraidamente. Motivo: pelo calor, porque estão relaxadamente de férias, e porque estão fora do seu quotidiano normal.
2- se de dia o ambiente é descontraído, à noite a coisa muda de figura: as mulheres produzem-se mais, maquilham-se mais, investem nos modelitos que acham mais sexy (independentemente do que se ache bom ou mau gosto). Por um lado, como o ambiente é de férias, as mulheres tem mais tempo e mais vontade de se produzir; por outro lado, a concorrência da mulher estrangeira (e cada vez mais da nacional, felizmente...) é ferocíssima: elas vêm cá, sabem que isto está pejado de “machos latinos” (seja lá o que isso for), e vestem-se para “matar” . O resto da mulherada fica mais incentivada para se produzir, não vão os homens no geral, e os eventualmente seus no particular, olhar mais para as outras... Resultado: um cenário homogéneo – mini-saias, vestidos justos, decotes, brilhos, salto agulha, muita maquilhagem. Os cabeleireiros estão sempre cheios até à hora de jantar, já para não falar nas lojas de roupa.
3- Os homens, de há uns anos para cá, estão a melhorar e muito. Antes, só chamavam a atenção alguns desportistas bronzeados, com uma farpelazinha de melhor gosto, algum “cota” mais enxuto e os seguranças do Zézé Camarinha. Contavam-se pelos dedos. Agora, dá ideia que os homens perceberam que a produção também os pode favorecer, e andam por ali cheíssimos de bom aspecto... não todos, mas uns quantos (e alto aí que nem estou a considerar os pseudo-Castelo-Brancos... ah, não, tecnicamente, chamam-se metrosexuais).
4- Atitude – qualquer coisa entre o descontraído e o “anda cá meu pequerrucho”. As mulheres: julgo que bebem mais do que quando estão no seu quotidiano normal. Whisky, vodka, cerveja, as bebidas preferidas. Coktails, também, muitos. Shots, mais nas discotecas, ou em bares específicos. E porquê? Porque no dia seguinte não têm que ir trabalhar, e podem sempre ressacar pelas praias; porque o calor faz sede, e porque a malta fica bem disposta. E não se vêm muitas mulheres sem um copo na mão. Nem sozinhas... elas não têm qualquer problema em conversar com quem quer que seja, e metem-se com quem lhes interessa, sem se preocupar com as convenções sobre não falar com desconhecidos... Os homens: a mesma coisa. Até porque a bebida é sempre um bom desbloqueador de conversas: aí umas 50%, pelo menos, das abordagens masculinas têm a ver com bebidas (o velhinho “posso oferecer-lhe uma bebida” ainda resulta, por incrível que pareça...).
5- Por causa do álcool, da boa disposição, e/ou do à vontade de não ver gente conhecida (o que em Albufeira até é difícil), toda a gente participa em tudo: karaokes (os estrangeiros são sempre os primeiros, o tuga depois é que vai), pequenos concursos nos bares, etc. E dançam, fartam-se de dançar, nem que seja no meio da rua.
6- Ora, dada a convivência das mulheres algarvias com este pessoal todos os anos, há muito tempo que elas, no geral, se tornaram mais produzidas, mais vaidosas, e mais atiradiças do que a maioria das mulheres dos centros urbanos mais a norte, e isso é normal. Mesmo que se questionem os gostos na apresentação da figura, elas são capazes de chamar mais a atenção, independentemente da formação que possam ter. A concorrência apura o mercado, certo? Mesmo em termos de atitude, umas são mais cool do que outras, mas o show off, e o à-vontade consigo próprias e com os outros, especialmente com os homens, são evidentes.
7- Pena que os homens algarvios não sigam os mesmos exemplos, à escala. Continuo a achar que ainda têm muito que aprender. Há ainda muito Zézé Camarinha em versões mais recentes, e até menos interessantes. Mas no entanto, eles safam-se. Melhor que elas!!! A procura pelo latin lover (?)é muita, e os algarvios não são assim tantos.
8- Em relação à formação académica, já se pode dizer que há mesmo de tudo: mulheres com elevados graus académicos e mulheres com formação básica, têm muitas vezes as mesmas atitudes, para o bem e para o mal – a vulgaridade, ou a classe, não têm que depender directamente de um diploma. Só na base da observação, é difícil distinguir os níveis de formação, porque o mau gosto é um mal que também afecta pessoas com formação superior; e dado que no Algarve há já muito ensino superior, o nível tem subido por lá, pelo menos no papel... Em altura de férias, a regra é ter mesmo que se conversar pelo menos 2 minutos com as moçoilas, para se perceber o nível de formação.... porque só pelo aspecto, não sei se lá se chega . Nos homens é ligeiramente mais fácil de distinguir, não tanto pela farpela, mas também – e fazem-se mais difíceis, e não investem tanto na boca foleira. Esforçam-se por captar o interesse das moças pela conversa, não só pelo aspecto (ainda que quase ninguém dê muita conversa a feios, especialmente se forem burros e alarves...).
Isto tem uma grande dose de generalismo despótico, eu sei - há gente de todo o tipo, por todo o lado, no Algarve também, vivemos numa sociedade global. Mas o Algarve, quando está a bombar, passa esta imagem, e não sou a única a dizê-lo. E nem acho que seja mau. Mesmo nada. E, na realidade, coitados dos algarvios: quando a malta anda por lá na galhofa, eles têm que trabalhar.... é a vida!